quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

Capítulo 2, Parte 2

As janelas sem cortinas revelam que já não há vida própria nesta sala, já não se requer privacidade, tudo o que aqui se passar a partir de hoje não interessa a ninguém. Já aqui não moro, sou apenas o narrador de uma história que muda de capítulo. A rua toda pode entrar pela sala, os olhos não se detêm no limite das paredes. Experimentei passar para além do limite. Olhei para além da janela, ultrapassando o que eu tinha definido como o meu próprio espaço. Aquela casa, em frente, com os gerânios e as sardinheiras no canteiro. Agora que as janelas cumprem finalmente o papel de serem uma abertura para fora, apercebo-me de que sempre ali esteve, afinal. Levantei-me, e fui à janela. A casa de Briolanja, a professora de liceu que fazia orais nos dias quentes de Julho. Briolanja e as suas tranças ruivas, belas espirais de fogo. Tantas vezes envolto naquelas tranças.

 

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