domingo, 13 de dezembro de 2009

Capítulo 3, Parte 1

Entraram no carro, sentaram-se, e ambos pensaram que aquela viagem não fazia sentido. E, à medida que a estrada se desenrolava, menos sentido parecia fazer. Uma eterna reta, como uma suspensão do tempo, interminável, à sua frente. De princípio, ainda diziam um ao outro, entre risos, que a reta estaria a acabar, que logo viria uma sequência interminável de curvas, como os inevitáveis dias de chuva após dias consecutivos de bom tempo. Mas não. A reta continuou, e eles também. Imaginaram, iludidos pela paisagem, que estavam girando sobre a lua, e que daí a pouco iriam ver o seu próprio rasto, e voltar a passar por cima dele, vezes e vezes sem conta, cumprindo várias circumnavegações. Mas não. A poeira do chão continuava intacta, sem marcas, sem passado, sem princípio, nem fim. A paixão que tinham um pelo outro fazia-os, talvez, acreditar que tudo era normal, e que aquela poeira fina e lunar se dissiparia a qualquer momento para deixar ver uma vegetação primaveril. A poeira não desistia, porém, e deixava-se ficar atrás deles, suspensa. A monotonia da paisagem dissipava-se apenas ligeiramente quando as sombras de nuvens dispersas espalhadas pelo chão acalmavam a luz. Mas, nem árvores cresciam ao longo daquela imensa estrada monótona, reta, e infindável; apenas uns postes de eletricidade, que ao início pareciam postes normais, mas que não eram. Por um bocado, ficaram a matutar nos postes, sem perceberem o que tinham de anormal, mas convenceram-se de que pareciam perseguir as nuvens.

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