quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

Feliz Natal

Há um par de minutos que está ali, estaticamente, a olhar para o céu. Teve um dia terrível, tudo a correr mal, e não via a hora de ir para casa. Desde o almoço que lhe apetecia ir embora, passar na florista para comprar um ramo de rosas brancas, de que o seu anjo tanto gostava, e ir para casa, talvez saírem para beber um aperitivo e jantar fora, reviverem aqueles dias de amor celestial que tinham vivido logo depois do casamento, havia menos de dois meses. De cotovelo apoiado na secretária e o queixo apoiado na mão, deixou-se estar um bocado a olhar para a fotografia no desktop do computador, a admirar-lhe a pele branca, fina, sensual, que lhe apeteceu percorrer naquele momento; e com a seta do cursor, foi-lhe desenhando o contorno do rosto, distraidamente, vezes sem conta, até se aperceber de que estava a fazer uma figura ridícula de recém-casado. Compôs-se, olhou em volta, e suspirou. Que vontade de ir para casa… De repente, o telefone tocou: reconheceu imediatamente o número. Era o seu amor tão desejado. Atendeu, com um grande sorriso e uma voz melada de paixão. Namoraram. Ficou no ar a promessa de um jantar romântico e uma noite especial. Mal pousou o auscultador do telefone, decidiu-se. Vou-me embora. Fechou o outlook, fez shut down, e voou para casa.

Abriu a porta devagar, o ambiente estava preparado para ser íntimo, lareira acesa, a luz fraca e quente, a mesa posta para dois, velas, os talheres de prata da tia… O bip do microondas na cozinha anunciou um timing perfeito. O seu anjo apareceu subitamente num vestido branco, curto, quase transparente. Daí para a frente, tudo aconteceu como ambos aspiravam. Jantaram, trocando carícias, desejo, paixão. Despiram-se ainda na sala, rapidamente, como se fosse a primeira vez, respiraram o mesmo ar, sentiram os mesmos perfumes, percorreram-se cruzando olhares de volúpia. No momento certo, voaram para o quarto, deitaram-se e abraçaram-se: «Boa-noite, meu anjo, adoro-te.» «Boa noite para ti também. Dorme bem.» Embrulharam-se nas asas e adormeceram: os anjos não têm sexo…

 

 

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