segunda-feira, 1 de novembro de 2010

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

quarta-feira, 30 de junho de 2010

revista OTTAGONO, Junho, pág. 166

Philippe Starck em Nova Iorque

Passei uma semana em Nova Iorque, a evitar um exagero de museus e outros destinos culturais, tentando conhecer a cidade a caminhar nas ruas. Evitei a maior parte dos lugares comuns. Não perdi: o restaurante do nono piso do MAD– Museum of Arts and Design— onde comi uma ótima asa de raia a voar sobre o Central Park; a MoMA Design Store—loja do Museum of Modern Art.
A MoMA Design Store tem à venda, em destaque, produtos de designers portugueses, sob o tema Destination Portugal. Estes produtos estão na loja da 54th Street desde Maio e ali ficarão alguns meses. A coleção mostra cerca de 100 artigos, alguns deles longe de Portugal pela primeira vez, de designers mais conhecidos e de designers emergentes. Muitos dos produtos usam materiais e técnicas tradicionais, valorizando princípios de design ecológico.

No último dia, cumpri um sonho de mais de trinta anos: comprei uma objetiva olho-de-peixe (nenhum lugar é melhor do que Nova Iorque para bater umas chapas com uma olho-de-peixe, a arredondar o skyline e a dobrar a espinha aos arranha-céus). Entrei numa das muitas lojas de máquinas fotográficas, telemóveis, computadores, iPades, todo o tipo de gadjet e bugigangas: o Martim Moniz em bom.

À porta, um vendedor de carreira, como só em Nova Iorque: cumprimenta-me, quer saber como me sinto naquele dia, pergunta-me pela família, e diz-me que tem tudo o que eu preciso. E tem. Testa-se, discute-se o preço, paga-se e sai-se… mas não sem antes ter de recusar trinta modelos de última geração de telemóveis e computadores, apregoados por outros tantos vendedores da mesma loja.

Já com a mão na porta, um dos homens toca-me insistentemente no ombro, a apontar-me um elegantíssimo afro-americano sentado a meio da loja, não com ar de vendedor, mas com ar de ser o dono daquilo tudo. Tinha um ar sereno, muito bem vestido, de azul, e eu nem sequer tinha reparado nele porque não me tinha tentado impingir nada. Mas agora olhava para mim, olhos nos olhos, e apontou o dedo negro e luzidio na minha direção. Percebi que não apontava para mim apenas. Apontava, precisamente, para a minha cara, com o braço em riste, e o dedo esticado na direção do meu nariz. Não fiquei nada à vontade.

O outro, o que estava à porta disse-me: «Ele quer mostrar-lhe uma coisa». Ainda menos à vontade, pensei que o homem seria mudo, ou que tinha um artigo qualquer que tinha sido surripiado à CIA e ele ia querer vender-mo, ou que seria um agente do IRS à paisana (arrependi-me logo de ter conseguido negociar a objetiva sem pagar o imposto…). Aproximei-me. Tirou os óculos e estendeu-os na minha direção. (Percebi: vai querer vender-me uns óculos escuros.) E apontou para os meus. Mas os óculos dele não eram escuros, eram como os meus, graduados, de lentes claras. Eu tirei os meus e estendi-lhos explicando: «Os meus óculos são desenhados por dois designers, chamam-se Alain Mikli e Philippe Starck. O Starck, para além de ter inventado um sistema de articulação muito sofisticado para estes óculos é um designer francês muito conhecido em todo o mundo e tem vários projetos em Nova Iorque.» E ele, estendendo-me outra vez os dele, disse, sorrindo: «Os meus também, irmão: Alux de Lumiére, limited edition.»

Philippe Starck e Alain Mikli apresentaram a edição limitada e numerada “Collector’s Box” revelando os óculos “Alux de Lumiére”. Apresentadas numa caixa como uma joia, estas armações feitas de alumínio brilhante são o resultado de know-how único e uma tecnologia e estética de vanguarda. Para colecionadores, à venda nas lojas Alain Mikli e nalgumas lojas de ótica. A “Collector’s Box” está à venda por 1500 Euro.

ver também em http://www.pnetdesign.pt/?p=1366

domingo, 6 de junho de 2010

Domus Academy

China, Colômbia, Brasil, México, Turquia, Rússia, Inglaterra, Irlanda, Estados Unidos da América, Portugal, Itália, Índia, Tailândia, Alemanha, Coreia do Sul, Marketing, Comunicação, Gestão, Economia, Design de Moda, Design Gráfico, Design Industrial, Literatura, Jornalismo, História de Arte, Tecnologia da Moda, Direito, Belas Artes.
Esta é a origem – geográfica e académica -- dos trinta e um estudantes do Master in Fashion Management da DOMUS ACADEMY (DA).

A DA tem a decorrer nove mestrados em diversas áreas do design e da gestão (moda, arquitetura, automóveis, etc.) e é reconhecida como uma das melhores escolas do mundo. Os cursos de mestrado são a principal oferta de educação da DA mas, para além disso, a escola promove uma vasta gama de cursos intensivos para jovens designers e profissionais de outras áreas que queiram explorar novas oportunidades de carreira.

Em 2009, a DA foi adquirida pela Laureate International Universities, líder mundial da educação da arte e do design, com uma reputação de criar uma experiência educativa multicultural.

O curso (Master in Fashion Management) tem a duração de doze meses, entre Janeiro a Dezembro, e está desenhado para tirar partido da grande diversidade cultural e académica dos alunos que o frequentam, promovendo um riquíssimo intercâmbio disciplinar e cultural, num meio em que é essencial adquirir competências de gestão da criatividade, participando em projetos que tocam as áreas da produção, da comunicação e da distribuição. O curso promove laboratórios (workshop) em que os estudantes desenvolvem projetos concretos, com a participação e orientação de profissionais e empresas de várias áreas da moda e do design. A DA convidou-me para participar num dos laboratórios, o que me deu a oportunidade, mais uma vez, de explorar este melting pot de culturas e experiências e apreciar as diferentes formas de pensar (economias emergentes versus economias maduras, gestores versus designers, etc.)
Estou habituado a gerir as diferentes visões culturais --faz parte do meu trabalho -- como forma de explorar diversos tipos de abordagem e de criatividade, diferentes perspetivas sobre o mesmo problema, conduzindo sempre a interessantes resultados.

Inevitavelmente, ao longo do tempo, fui formando e organizando os meus paradigmas. Sei, por exemplo, que é muito mais fácil pedir a um designer americano que recomece tudo de novo – back to the drawing board – do que a um inglês – que tentará sempre justificar a sua solução como a única possível e a melhor do mundo.

Neste workshop da DA, foi muito interessante sentir que as diferenças da forma de pensar entre os estudantes oriundos de economias maduras e os oriundos de economias emergentes se refletem muito na ingenuidade que deixam transparecer. Estará a ingenuidade está em extinção nos países desenvolvidos?
Para mim, a criatividade é um processo de partilha, em que nem sempre se pode apenas submeter o produto acabado, as ideias polidas; num processo de partilha, as ideias podem, por vezes, parecer estúpidas, ou desprovidas de sentido… e podem depois ser melhoradas, complementadas, desenvolvidas, ou abandonadas.
A capacidade de contribuirmos com ideias que não sabemos se são úteis ou não é desenvolvida na proporção inversa da tolerância do grupo. Por outro lado, a tolerância de um povo aumenta na razão direta da exposição a diferentes culturas.

Apesar de este curso ocorrer numa cidade—Milão—que não é reconhecida pela sua tolerância cultural, fiquei com a clara sensação de que a DOMUS ACADEMY, com a sua abordagem multicultural, está a contribuir para a formação de melhores designers e, portanto, para um mundo melhor. Parabéns, Domus Academy.

segunda-feira, 31 de maio de 2010

Não há moral

Tínhamos reservado uma casa para ficar, na costa alentejana, mas não gostámos do sítio, e cancelámos. Acabámos por ir visitar os meus cunhados a Odeceixe e almoçámos com eles, sem nos preocuparmos com o que iríamos fazer a seguir nem onde iríamos ficar. O almoço acabou tarde, porque tive a despropositada ideia de comprar uns mexilhões e pedir ao Manel – o meu cunhado – que os limpasse (ele recusou olhar para os mexilhões como um escolho que se mete na frigideira, com alho, azeite, tomate, e algas, e decidiu abordá-los um a um, transformando-os em pequenas joias marinhas de um belo nacarado azul negro, resplendentes e luminosas – coisa que leva o seu tempo). Depois do almoço, perguntámos a um homem empoeirado que varria uns degraus se sabia de uma casa para alugar. «Esta», disse ele, «acabei agora mesmo de a construir e ainda não a aluguei.» E assim ficámos uns dias em Odeceixe. Numa das noites, o meu sobrinho Gonçalo quis ir dormir lá a casa e eu vi nisso uma oportunidade de aumentar o meu público de histórias para dormir – eu costumava contar histórias à minha filha, e as minhas histórias tinham um enorme sucesso, eram coisa de dez a vinte minutos de narrativa, com umas personagens mais ou menos complicadas, tipo cavalos alados que saltavam valados, pardais parvos que sobrevoam prados pardos, papas de roma com sapatos prada numa almofada encarnada, e por aí adiante (e eu nunca gostei muito de explicar tudo às crianças porque acho que elas têm muito tempo para aprender…). Ia eu já muito avançado no desenvolvimento, com todas as personagens já metidas no enredo, quase, quase, a chegar a um clímax, com a minha filha a dormir o segundo sono, ainda o Gonçalo estava de olhos abertos, parados, miudinhos, a olhar para mim. Eu, com receio de que a minha veia literária terminasse antes que o Gonçalo fechasse os olhos, decidi dar um empurrãozinho: «Gonçalo: fecha os olhos, para ouvires melhor a história…» O miúdo fechou os olhos. Continuei a narrativa, embrulhando um bocadinho as descrições. Daí a pouco, o puto abre os olhos, e pergunta: «tio, tio, quando é que entra a bruxa?» Suspendi tudo. Amaldiçoei o meu cunhado e a warner brothers por transformarem todas as histórias de crianças em lutas de transformers com bruxas más (reconhecendo que as personagens deles são mais apelativas do que as minhas, no entanto…) e disse: «Gonçalo: nesta história não há bruxas!» O Gonçalo conformou-se e voltou a fechar os olhos. A partir daí, compliquei um bocadinho a ação, para ver se o sono do puto vinha mais depressa, espiralei a narrativa, abrandei o ritmo da história... Triunfo! Preparo-me para o desfecho, o miúdo já está há um bocado sem abrir os olhos, missão cumprida: mais duas crianças embaladas por uma história de sucesso; o Gonçalo, subitamente, abre os olhos, e pergunta: «tio, tio, sabe com que é que sonhei no outro dia?» Suspirei, magoado por ter de aceitar ouvir a história do Gonçalo a meio da minha própria história, logo naquela parte que eu tinha definido como desfecho, mas enchi-me de paciência didática e disse: «Não, Gonçalo, conta lá…»

E o puto contou: «Sonhei que estava a ajudar o lobo mau a apanhar os três porquinhos.»

Não há moral.

sexta-feira, 14 de maio de 2010

A regra e a exceção, e a exceção, e a exceção...

Sempre tive muita admiração por quem sabe interpretar regras, cumpri-las, e ainda adicionar valor ao processo do design transformando limitações em oportunidades. Mas, mais do que admirar quem cumpre regras, admiro quem as questiona. Fico sempre muito desiludido com a Grécia quando lá vou – e não estou a falar da dificuldade que têm em gerir a dívida pública; quem não a tem, hoje em dia? – porque a arquitetura e o planeamento urbano obedecem a um mar de leis que um grupo de técnicos burocratas inventou e que faz cumprir, transformando quase tudo o que está abaixo do PARTENON numa imensa mole de edifícios desenhados com régua, transferidor, índices de ocupação, rácios de volumetria e artigos legais, sem qualquer caráter nem qualidade.

(Curiosamente, porque a criatividade é como o azeite e tem sempre de vir ao de cima, os projetos de design de interior são admiráveis – as lojas em qualquer cidade grega têm uma qualidade que é difícil de encontrar em muitos outros países com menores dívidas públicas.

Lembro-me sempre da história da criatividade tropical que me contou um amigo motard, indignado porque, no Brasil, ninguém usava capacete, rolando de cabelos ao vento pelas marginais da praia. Explicaram-lhe que “no Brasil, tem lei que pega e lei que não pega…”)

Sendo a Itália também um país criativo e com forte inclinação para inventar leis e regras que, mais ou menos, se fazem cumprir, fiquei muito admirado quando me falaram da “lei da Madonnina”. A tradição diz que nenhum edifício em Milão poderá ultrapassar a altura da estátua dourada da Senhora da Assunção, esculpida por Giuseppe Perego, e colocada sobre a agulha mais alta da catedral de Milão. Sendo a cidade fortemente católica e plana, não é regra para desprezar. E assim foi, durante muitos anos – a lei, passada de boca em boca durante muito tempo, terá sido oficialmente escrita nos anos trinta do século XX. Nem a famosa Torre Branca no Parque Sempione nem a Torre Velasca, ícones da cidade, ultrapassaram os famosos cento e oito metros e meio da santa senhora.

No entanto, Giò Ponti e Nervi projetaram a famosa torre Pirelli – a tal que sobreviveu ao impacto de uma avioneta – no final dos anos 50 com uma altura de 127 metros mas, para não faltar ao respeito religioso da lei, mandaram fazer uma cópia da estátua, também revestida a ouro, e colocá-la no topo da torre — onde funciona a sede do governo regional da Lombardia. Cumpre-se assim a tradição e a lei, e alberga-se uma instituição.

Este ano, mantendo-se a regra, já que houve necessidade de construir novas instalações para o Governo da Lombardia, promoveu-se um concurso internacional — ganho por Pei Cobb Freed & Partners, em colaboração com os ateliers de Milão Caputo Partnership e Sistema Duemila – e promoveu-se novamente a Madonnina, em nova cópia dourada, a 161 metros de altura.

Assim, mantém-se a regra, eleva-se a exceção… vejam bem o exemplo, enquanto alcançarem!

MS

ver em www.pndesign.pt