quarta-feira, 31 de dezembro de 2008

Última "coisa" do ano

Estava a ver que não andava de kayak antes de o ano acabar!

HAPPY NEW 2009!!!!!!!!!!!!!!!!

Salute!!

quarta-feira, 12 de novembro de 2008

A Educação e o Poder

A manutenção do poder é mais importante do que as reformas, por isso, o 1º ministro está mais interessado em desenvolver uma estratégia de manutenção do poder do que em reformar a educação.
A redução de população jovem e, por isso, de população estudantil é uma realidade, será necessário definir uma estratégia de despedimentos ou de relocalização dos actuais professores excedentários (ou de definição de um projecto de carreira diferente para essas pessoas) e este é que é o verdadeiro problema com que o 1º ministro tem de lidar.
A ministra da Educação está a fazer o papel de PIDE mau; o 1º ministro fará o papel de PIDE bom quando, finalmente, a substituir; mas isso não mudará nada (é preciso que algo mude para que tudo fique na mesma!) Manuel Alegre já deu as primeras notas de discordância com a ministra, o que ajudará a dar ao 1º ministro a justificação política para a demitir (não é a senhora que está a ser inflexível, ela apenas obedece às ordens do 1º ministro)
O 1º ministro encontrará então—num golpe de mágica--, entre as hostes de professores mais activistas (será seguramente um professor) um ilustre desconhecido (ou não!, parece que o próprio Manuel Alegre já se perfila para o lugar) que convidará para assumir o papel de novo ministro da Educação e, assim,obter o apoio dos professores para prosseguir a sua política (mas não esqueças que a política não poderá mudar, o verdadeiro objectivo é reduzir o número de profissionais não necessários na Educação!)

Nota negativa aos professores que continuam a achar que discutir a Educação é discutir os seus próprios direitos. Não é, é algo bem mais profundo do que isso mas os professores estão demasiado desorientados e desmotivados para o fazer. O verdadeiro debate sobre a Educação em Portugal—que ainda ninguém fez!—deveria estar a ser conduzido pelos próprios professores.

segunda-feira, 20 de outubro de 2008

Literaturas finisseculares

As literaturas Europeia e Portuguesa responderam artística e esteticamente ao contexto geral de crise e de pluralidadeda do fim do século XIX da mesma forma que o Claude, meu companheiro de viagem de ontem:

"Les influences de Wagner, Franck ou Massenet ne furent sur lui qu'éphemeres. Il connaît les gamelangs javanais; mais sa conception de l'art, certaines formes de son esthétique rappellent plutôt celles de nos classiques (Couperin, Rameau) ou celles des polyphoneistes dont il admire la pleine concision. Son instinct musical, ses recherches constantes des sonorités les plus subtiles, des formes les plus souples, son évident horreur du romantisme, des développements classiques et tout prévus, l'ont conduit à parler un langage absolument neuf. Il s'aplique moins à trouver des mèlodies qu'à créer, par une suite d'harmonies capiteuses (onzièmes, treizièmes), une atmosphère chatoyante, mystérieuse. Chez lui, chaque accord a sa saveur, chacun sa couleur. Ansi, le poète, qui est un peintre, procède-t-il par touches légères. Il affectionne les gammes par tons entiers, dédaigne les résolutions, la distinction jusqu'alors observée entre modes majeurs et mineurs. S'affranchir de la loi tonale, fragmenter les thèmes, laisser à la trame musicale toute la souplesse nécessaire, fuir tout ce qui est statique, suggérer par contre tout ce qu'il y a de fuyant, d'éthéré dans la nature comme dans la pensée, telles paraissent être ses préoccupations. Indépendent, «Claude de France» est un créateur profond qui a «libéré» la musique de l'emprise wagnérienne. Son art allait révolutionner la musique européenne." [1]

As literaturas, Europeia e Portuguesa, chegam ao final do século XIX com o Realismo e o Naturalismo de um Balzac e um Stendhal europeus; e de um Eça e um Garrett portugueses, flamejados de um Positivismo em Teófilo Braga e de uma série de outros ismos (determinismo, decadentismo, darwinismo, simbolismo).
Mas, sobretudo, as literaturas chegam ao final do século conscientes de que os valores estéticos têm de mudar e tentam de facto mudá-los com atitude crítica, voluntária, consciente de cisão, de fim-de-uma-época, início de algo novo, vanguarda.
O Simbolismo, por exemplo, nasce do manifesto publicado por Jean Moréas, no Figaro (1886); o Modernismo (sobretudo em Inglaterra e na América do Norte) nasce de autores "que manifestam uma consciência crítica face aos géneros literários tradicionais e ao que convencionam chamar a 'frase literária': autores como T.S. Eliot (1885-1965), que, marcados pela segmentação do saber (filosofia, antropologia, psicologia, psicanálise), exploram as possibilidades linguísticas do discurso sintacticamente fragmentado ou as representações do discurso anterior." [2]; o Futurismo, da teorização de Marinetti, e Almada-Negreiros, também na forma de manifestos...
BASTA PUM BASTA!


[1]Dufourcq, Norbert, 1960. Petite histoire da la musique. Paris: Larousse
[2]Malato, Maria Luísa, 2008. História da literatura europeia. Uma introdução aos estudos literários. Lisboa: Quid Juris

domingo, 19 de outubro de 2008

Debussy a caminho de Biella

Não estava habituado a ouvir o Debussy fora de casa. Não tive receio de o levar a Biella, que é uma cidade romântica, de belos palácios e belos jardins românticos, terra moldada da terra no virar do século, à custa da indústria têxtil. Sabia que era o seu ambiente natural. A visão pacifica dos Alpes, naturalista e romântica também não deveria preocupá-lo. Do que tinha medo era da velocidade, da auto-estrada entre Milão e Biella, cento e quarenta, cento e cinquenta quilómetros por hora, não sabia como iria reagir. Liguei o iPod ao carro, liguei os cento e setenta cavalos, saímos.
Atravessámos Milão, mais românticos que modernos [1], eu e o Debussy.
Pusemos as rodas na autoestrada [2], cento e quarenta (don't do this at home, a velocidade máxima em Itália é de 130km/h). Perfeito! O Claude (permitam-me que o trate por Claude) reclinou-se no banco, olhou para o lado, viu o TGV passando por nós a quase o dobro da nossa velocidade e olhou para mim com ar desafiador: disse-lhe que se limitasse ao seu próprio andamento, que haveriam de vir outros futuristas para aquelas velocidades…
Segui, olhando para os Alpes, durante quase uma hora, ouvindo o Claude. À vista da minha obra, apareceu Rimbaud [3]:

Là bas, dans leur vaste chantier
Au soleil des Hespérides,
Déjà s'agitent -- en bras de chemise --
Les Charpentiers.
[…]
O Reine des Bergers,
Porte aux travailleurs l'eau de vie,
Que leurs forces soient em paix
En attendant le bain dans la mer à midi.
[…]"



[1] Images Inédites, L. 87: I. Lent, Doux Et Mélancolique
[2]Pour Le Piano, L. 95: I. Prélude. Assez Animé Et Très Rythmé
[3]Poesia Délires II/Alchimie du Verbe, em Rimbaud, Arthur, Rimbaud Oevres Poétiques. 1964 (Chronologie et préface par Michel Décaudin), Paris: Garnier Flammarion p.131

PS: Continuo a achar que mais vale uma metáfora do que mil imagens.
Ciao

Futurismo

O Marinetti não caiu no goto dos ingleses quando publicou o Manifesto di Fondazioni del Futurismo no "The Tramp" em 1910, em inglês, exaltando o papel das máquinas, dos motores e da velocidade -- os carros, na sequência do comboio do Oitocentos -- na formação das artes de vanguarda do Novecentos. Apareceu imediatamente o Whyndham Lewis que fez uma série de comentários irónicos: que os ingleses não precisavam de um profeta milanês para lhes dizer que os carros a motor andam depressa; que a extraordinária infantilidade dos Latinos acerca das invenções mecânicas, aeroplanos, maquinaria, etc. já é familiar a quem tenha vivido em França ou na Itália; que a Inglaterra praticamente tinha inventado esta civilização de que o Signor Marinetti agora lhes vinha apregoar; que, enquanto a Itália ainda era uma pântano de intrigas assombrado pelos Bórgias, a Inglaterra já resplandecia na elétrica e brilhante armadura do mundo moderno, disseminando as suas invenções e novo estado de espírito pela Europa e pela América [1].
A Orpheu publica Ode Triunfal no nº 1, em Março de 1915 (a poesia tinha sido escrita em Junho de 1914).
"Ó ferro, ó aço, ó alumínio, ó chapas de ferro ondulado!". Lembrei-me que tinha de ir a Biella, ver a minha obra -- que vai inaugurar no dia 29.
Empacotei o Debussy no iPod e lá fui.

[1]
Ceserani, Remo, 2005. La modernolatria, la macchina, la polemica antimacchinista. In: Gianci, G., 2005. Modernismo/Modernismi. Dall'avanguardia storica agli anni Trenta e oltre. 5ª ed., Milano: Principato, pp.241-254

Juventude


Foi graças ao Mário de Sá-Carneiro, ao Dionísio Vila-Maior e ao Brian Muirhead [1]que passei a manhã de ontem a caminhar pelo Porto. Eu já tinha encomendado o Céu em Fogo mas o livro não chegou a Milão por causa da greve dos correios; estava destinado que teria de descer a Rua da Fábrica para o encontrar. Tentei a Lello [2]mas nada, esgotado! Perguntei onde poderia encontrar, nem que fosse a edição de bolso da Europa-América. Mandaram-me para a 31 de Janeiro. Como sempre, não liguei às instruções, segui no caminho oposto e… lá estava, a 5ª edição da Ática, quase nove anos à minha espera, com nove anos de pó em cima. O dono da livraria, contemporâneo da primeira edição, pareceu contente por ter-se visto livre dele como se estivesse a ver-se livre de uma maldição. Estranho!
Desci a rua (a tal, a da Fábrica) a lê-lo. "Dor, acre, sucata leprosa…" Ter-me-ia suicidado antes de chegar ao Coliseu se entretanto não tivesse visto o que vi. Inacreditável!
Bem à minha frente, na Avenida dos Aliados, está a Juventude: Escultor Henrique Moreira, anos 20 [3].
Que contraste. Sentei-me num dos bancos de madeira, a ler o Céu e a olhar para a Juventude, tentando imaginar como seria aquele Passeio Público nos fins do século XIX. Já sabia que o período era de desassossego e mudança mas não entendia como na mesma vintena de anos poderiam ter coexistido em Portugal aquelas duas obras -- uma literária, outra escultórica--, o cinzento e deprimente ambiente suicida de Sá-Carneiro e o jovial, ingénuo e rejuvenescente mármore talhado da Menina Nua (o nome por que é conhecida a estátua no Porto).
Senti que a minha contextualização histórica ainda não me permitia entender a dicotomia. Continuei a ler o Céu. Já tinha lido os posts dos meus colegas relativos à comparação de atitudes entre Cesário e Mário, fiquei com a impressão de que não haveria aí grande discussão, isto é, não é que um seja optimista e outro pessimista, a verdade é que ambos me pareceram bastante pessimistas, desassossegados e nostálgicos, decidi não ir por aí-- apesar de, claramente, terem graus de desassossego bem diferentes! Deixei de parte a análise psicológica-- até porque ainda há que atribua a Sá-Carneiro uma dose considerável de demência que eu não almejo analisar…
Virei-me para os aspectos meramente relacionados com a minha leitura. Depois de identificar alguns elementos comuns entre ambos (a cidade, o movimento, o romantismo, a modernidade) comecei a achar que havia três claras diferenças entre o Verde e o Sá-Carneiro:
O uso do sujeito da narrativa (o Verde é ele próprio, o "repórter" das "sensações" como dizem o Carlos Ferreira e a Armanda; o Sá-Carneiro usa o "outro": o artista; o poeta)
O uso dos sentidos e da percepção sensorial (as alusões sensoriais mais arrojadas de Verde falam de flocos de pó de arroz que pairam sufocadores; Sá-Carneiro fala do ruido acre, globos de ouro tilintantes de luzes)
O ritmo, a densidade e complexidade da narrativa (Verde usa uma narrativa linear, realista, geográfica; Sá-Carneiro revela-se possuidor de uma enorme riqueza de recursos pictóricos (Van Gogh? Munch?)dramáticos, teatrais, recorrendo a imagens fortes, tensão violenta, argumento policial-- o Mistério só se percebe nos cinco últimos parágrafos da novela).

E comecei a pensar nos ismos… simbolismo, ocorreu-me o cubismo-- lembram-se que estive em Málaga há pouco tempo, no Museu Picasso?...

[1) Brian foi o gestor do projecto da Mars Pathfinder, a sonda que aterrou em Marte em 97; ontem contou como tinha sucedido aquele episódio, acerca de uma outra sonda não ter conseguido entrar em órbita por falta de combustível graças a um desentendimento gerado pela conversão de unidades imperiais em unidades métricas -- vicissitudes dos projectos colaborativos à distância
[2] http://cidadesurpreendente.blogspot.com/2005/12/lello-irmo-uma-livraria-deslumbrante.html
[3]fiz o upload da foto da Menina Nua-- a Juventude

o reverso da medalha

Como consequência de todas as transformações da transição entre o séc.XIX e o XX -- ou talvez apenas como contraponto --, crescem tensões sociais e políticas por toda a Europa que viriam a resultar na primeira guerra mundial.

Na sequência dos esforços de expansão já antes iniciados nas Américas e na Ásia (lembrem-se que, nesta época já se celebrava o centenário da independência dos Estados Unidos da América), a necessidade de obter matérias primas para a indústria empurra os principais países europeus para a África. Em Portugal, a independência do Brasil e o fim da escravatura deixam o país sem importantes fontes de rendimento e de fornecimento de matéria prima.

Portugal leva (mais passiva do que activamente!) os imperialistas europeus a regulamentar, em Berlim (em 1884 e 1885), a posse das terras africanas, tentando garantir uma ligação portuguesa entre as duas costas do continente negro; e inicia expedições para conseguir tratados de vassalagem dos povos autóctones.
O mapa cor-de-rosa, desenhado para unir Moçambique a Angola, colorida bandeira de paixões patrióticas, desfraldada aos ventos europeus, foi mais tarde posto em causa pela Inglaterra que fez um ultimato a Portugal.
"[…]Portugal era um pequeno estado, fraco e atrasado[…], virtualmente uma semi-colónia da Grã Bretanha; e só os olhos da fé podiam descobrir qualquer traço de desenvolvimento económico. Apesar disso, Portugal continuava a ser um membro do círculo dos estados soberanos e um vasto império colonial, graças à sua História; e conservava o seu império africano, não só porque as potências rivais europeias não conseguiam decidir como reparti-lo mas também porque, sendo um país 'europeu', as suas possessões não eram consideradas como objecto de conquista colonial." Hobsbawn, Eric (2007, p.22)

O Ultimato Inglês, de 1889, que ameaçava guerra a Portugal se não acabasse com o projecto do mapa cor-de-rosa, provocou mal-estar na sociedade portuguesa e deixou um forte vinco de humilhação durante décadas.

Fim de século, triunfalismo e desassossego

Os últimos anos do século XIX e primeiros anos do século XX são o palco de um ingénuo e eufórico despertar de vontades individuais. Muitos europeus tiveram, pela primeira vez em tão larga escala, a percepção de que poderiam moldar a sociedade à luz daquilo que eles próprios pensavam que a sociedade poderia ser. Tinham ideias, defendiam valores, acreditavam que um sistema político era melhor que o outro, tinham à sua frente a promessa de que a ciência resolveria todos os males do mundo e a economia liberal lhes permitiria a riqueza para sustentar os seus sonhos. Criaram-se nesses anos as personalidades que marcaram a história do mundo até aos dias de hoje, para o bem e para o mal.
"Em 1914, Vladimir Ilic Uljanov (Lenine) tinha 44 anos; Josif Vissarionovic Dzugasvili (Estaline) 35; Franklin Delano Roosevelt 30; J. Maynard Keynes 32; Adolf Hitler 25; Konrad Adenauer (pai da república federal alemã depois de 1945) 38; Winston Churchill 40; Mahatma Gandhi 45; Jawaharlal Nehru 25; Mao Zedong 21; Ho Chi Min 22; Josip Broz (Tito) 22; Francisco Franco Bahamonde (Generalíssimo Franco) 22; Charles De Gaulle 24; Benito Mussolini 31". Hobsbawn, Eric (2007, p.6)

O rápido crescimento da economia, em simbiose com o progresso científico e tecnológico, permitiu o desenvolvimento do comboio, do automóvel, do navio, permitindo grande mobilidade de gente e produtos; permitindo o surgir de um largo número de actividades industriais consumidoras de mão-de-obra, geradoras de riqueza, por um lado, e de assimetrias, por outro, colocando a Europa numa situação de grande transformação social.
"Entre 1870 e 1913 a população mundial passou de 1175 a 1723 milhões, o que implica um aumento de cerca de 50%. A Europa neste período continua a manter-se como centro demográfico do mundo, não apenas porque contém uma quarta parte da população total mas também porque dela saem emigrantes para outros continentes, especialmente para as zonas desertas da Oceânia e também para o mundo africano". Prada, Valentin V. de (1992[1966], 180)

A burguesia liberal aproximou-se mais dos proletários, as mulheres assumiram papel mais activo na sociedade e, fruto de alguma emancipação, integraram-se cada vez mais na máquina produtiva e na vida socio-cultural.

"In fashion history terms time never stands still. In the Edwardian era, new influences and a changing society in a young century began to challenge the stiff formality that prevailed. In the years between 1905 and 1918 clothing styles emerged that were evolutionary in bridging the gap between the rigid formality of the Edwardian styles and the ultimate changes that led to the knee high dresses of 1926."
Pasted from <http://www.fashion-era.com/1914_1920_towards_dress_reform2.htm>

Bibliografia:
Hobsbawn, Eric ,2007. L'Età degli Iperi. 1975-1914, Roma-Bari:Laterza
Prada, Valentin V. de, 1992. História Económica Mundial, II-Da Revolução Industrial à Actualidade. Barcelos: C. Editora do Minho

domingo, 21 de setembro de 2008

A propósito deste silêncio

Deixo-vos um poema do escritor brasileiro Jorge Kilkerry.

É O SILÊNCIO

É o silêncio, é o cigarro e a vela acesa.
Olha-me a estante em cada livro que olha.
E a luz nalgum volume sobre a mesa…
Mas o sangue da luz em cada folha.

Não sei se é mesmo a minha mão que molha
A pena, ou mesmo o instinto que a tem presa.
Penso um presente, num passado. E enfolha
A natureza tua natureza.
Mas é um bulir das cousas… Comovido
Pego na pena, iludo-me que traço
A ilusão de um sentido e outro sentido.
Tão longe vai!
Tão longe se aveluda esse teu passo,
Asa que o ouvido anima…
E a câmara muda. E a sala muda, muda…
Àfonamente rufa. A asa da rima
Paira-me no ar. Quedo-me como um Buda
Novo, um fantasma ao som que se aproxima.
Cresce-me a estante como quem sacuda
Um pesadelo de papéis acima…

E abro a janela. Ainda a lua esfia
Últimas notas trémulas… O dia
Tarde florescerá pela montanha.

E ó minha amada, o sentimento é cego…
Vês? Colaboram na saudade a aranha,
Patas de um gato e as asas de um morcego.

sexta-feira, 15 de agosto de 2008

Milano Centrale - Dijon

Milano Centrale-Dijon, carruagem 16, cama 81. 23h15. Já me tinha deitado quando entrou uma mulher africana. Pediu-me ajuda, tinha duas malas grandes e pesadas mais bagagem avulsa. Ficou apreensiva com a falta de espaço. Disse-lhe que pusesse as malas em cima de uma das seis camas do compartimento. Olhou-me, desconfiada. Eu disse-lhe que o funcionário do comboio me tinha garantido que haveria apenas quatro passageiros na cabina, pelo que achei que poderia perfeitamente utilizar uma das duas camas livres para as malas. Havia três camas de cada lado do compartimento, sobrepostas. Pareceu-me que as duas camas de baixo seriam as menos procuradas. Ela concordou. A meio da operação de carga, apareceu o terceiro ocupante do compartimento -- um homem, meio calvo, com ar simpático. Deixou terminar a estiva e ocupou a cama mais alta, à minha esquerda.
A mulher agarrou-se ao telefone e não parou de falar, em voz alta. Os passageiros italianos do compartimento ao lado vieram reclamar, indignados, porque tinham duas crianças a dormir. A mulher falou mais baixo mas não deixou de tagarelar, em Italiano e noutra língua africana. Ajudei o meu vizinho de compartimento a pôr uma enorme mochila na bagageira acima das nossas camas, junto ao tecto do compartimento. Ele, por sua vez, prontificou-se a fechar as persianas da janela e da porta, para que pudéssemos dormir. O comboio partiu às 23h35, no horário. Logo depois, veio o funcionário responsável pela carruagem, pediu-nos os bilhetes e os documentos, confesso que fiquei suspeitoso --os bilhetes, tudo bem, ele era o fiscal do comboio agora, os meus documentos…--, mas vi os outros passageiros a dá-los e dei-lhos também. O meu vizinho -- talvez percebendo a minha preocupação -- explicou-me que o passaporte era necessário para mostrar às autoridades na Suíça, onde chegaríamos dentro de duas horas. O responsável pela carruagem guarda os documentos para mostrar à polícia, evitando assim acordar-nos. Excelente serviço, achei. A nossa parceira africana precipitou-se para trancar a porta do compartimento -- achei estranho que o fizesse, mas pensei que seria normal prevenir que alguém tentasse entrar no nosso compartimento enquanto estivéssemos a dormir. Demos as boas-noites, a mulher continuou ao telefone, fazendo um esforço para falar baixo, eu adormeci.
Batem à porta, autoritariamente, com batida oficial. --Police!
4h35! Não pode ser a fronteira Suiça, pensei. --Police! On veut parler avec Madame Z’ntal.
O meu vizinho de viagem levantou-se e tentou encontrar a maçaneta para abrir a porta. Não a encontrou imediatamente, levou algum tempo a perceber onde estava e como funcionava. Conseguiu abri-la, estavam três polícias franceses à espera -- dois homens e uma mulher --, de documentos na mão. Perguntaram à mulher se tinha “papiers” para entrar em França. Ela respondeu que tinha apenas os documentos italianos -- que com certeza, já sabia estarem caducados… Mandaram-na retirar toda a bagagem do compartimento para sair do comboio. Ela não queria acreditar, tentou passar a porta sem bagagem, visivelmente desorientada e angustiada. A mulher policia insistiu que trouxesse toda a bagagem. Eu e o meu vizinho trocámos olhares de preocupação. A mulher estava numa situação difícil. Pensei que nem sequer poderia ajudá-la a retirar as malas pesadas do sitio onde eu próprio as havia posto. A polícia percebeu a dificuldade que a mulher tinha em transportar todas as malas e sacos e ajudou-a a retirar tudo para fora do compartimento e do comboio.
-- Je ne comprends pas comment il y a des personnes qui se mettent a faire des projects comme ça…-- disse o meu vizinho -- on ne joue pas avec la police française!
Fiquei confuso, pelo sono e pela situação. Tentei organizar os meus pensamentos e emitir uma opinião. Acabei por concordar que não se brincava com a polícia francesa. Quis dormir novamente mas não consegui porque o comboio ficou parado ainda durante muito tempo, fazendo um barulho contínuo estranho. A princípio, nem percebi se já estávamos a andar ou não, mas concluí que estávamos parados e assim ficámos, pelo menos, três quartos de hora. Ainda achei que a mulher voltaria. Não voltou. Pusemo-nos em marcha, finalmente, e acabei por adormecer. Acordei com o comboio a travar. O meu vizinho também acordou, disse-me que deveríamos estar a chegar a Dole, onde era suposto sermos acordados pelo funcionário do comboio. Assim foi, o funcionário bateu à porta poucos segundos depois, entregou-nos os bilhetes e documentos e desejou-nos boa viagem, em francês.
Dole é o condado de origem do conde D. Henrique, pai de D. Afonso Henriques, primeiro rei português. Tencionava visitar Dole nesta viagem, para perceber que laços culturais poderia identificar entre Portugal e a Borgonha. Estávamos a chegar a Dijon, o comboio já pasmava. Reparei que a paisagem era muito bonita, bosques, canais, rios, campos agrícolas. Pouco depois, começámos a ver alguns armazéns e outros indícios de que nos aproximávamos de uma grande cidade. O meu vizinho disse-me que ainda iria trocar de comboio, em Dijon, para chegar a Bruxelas. Adiantou que viajava muito entre Bruxelas e Estrasburgo. --Parlamento Europeu? -- perguntei.
-- Sim, disse ele.
Disse que gostava muito de viajar, por todo o mundo. Já tinha corrido todos os continentes, apaixonava-o sobretudo a América do Sul.
-- Je ne comprends pas comment il y a des personnes qui se mettent a faire des projects comme ça…-- pensei eu.

sábado, 12 de julho de 2008

Trovoada de Verão

Caem ovos do céu! Não é água, são ovos. Caem em cima dos carros e na estrada. Alguns acertam sonoramente nas campânulas dos candeiros da rua. Parece batuque de guerra em chapa de zinco. O céu está de balastro avariado, flashes consecutivos, azuis e cinzentos fazem um quadro, dezenas de quadros diferentes, não há pintor que consiga captar esta riqueza de gráficos de playstation. A maltinha foge, elas correm nas pontas dos pés para não estragar os saltos, protegendo a cabeça com o que podem, eles não correm, andam com aquele andar rápido, contrariado, de quem não tem medo de trovoadas ...
No bar, evacuaram as mesas de fora, as portadas fecharam-se, acabou tudo lá dentro, a estrada ferve. Na minha varanda estreita não chove, o vento é norte, fico de fora, vejo as pessoas dentro do bar, atrás dos vidros molhados. O happy hour na Hora Feliz, o bar cubano em frente à minha varanda, é considerado um dos melhores de Milão. Bebida não tropo cara, comida variada, música brasileira, pessoal simpático. Jantei lá, voltei cedo, vim ver a trovoada da minha varanda, sozinho.
As trovoadas ajudam a relativizar as coisas porque são uma demonstração poderosa das forças bélicas da natureza. Todos os problemas se tornam menores perante tamanha demonstração. A conjugação de elementos hostis é inequívoca: relâmpagos, chuva ou granizo, o troar poderoso dos trovões. Acabei a relativizar a própria trovoada, imaginando como, nesta mesma cidade, há pouco mais de sessenta anos, uma trovoada também poderia afinal ser um momento de paz, um momento de interrupção dos frequentes bombardeamentos dos Ingleses e Americanos, em 1944. Lembrei-me de uma trovoada seca, em Ferrara, muitos anos atrás, em plena guerra do Irão com o Iraque. Acordámos com as portadas a bater, som ensurdecedor, chovia como hoje. Apenas um dormia, um iraniano, em paz, longe das bombas da Pérsia.
No bar, tudo normal, outra vez. As mesas e as cadeiras limpas chamam os clientes. A Natureza mostrou-se uma vez mais.

"O Irão está preparado para bombardear Israel e as “32 bases militares americanas” no Médio Oriente em caso de um ataque contra o país, anunciou hoje um alto responsável iraniano, subindo o tom das ameaças trocadas nos últimos dias." In Público, online, 12 de Julho de 2008

Não Comerei da Alface a Verde Pétala...

Não comerei da alface a verde pétala
Nem da cenoura as hóstias desbotadas
Deixarei as pastagens às manadas
E a quem mais aprouver fazer dieta.

Cajus hei de chupar, mangas-espadas
Talvez pouco elegantes para um poeta
Mas peras e maçãs, deixo-as ao esteta
Que acredita no cromo das saladas.

Não nasci ruminante como os bois
Nem como os coelhos roedor; nasci
Omnívoro: dêem-me feijão com arroz

E um bife, e queijo forte, e parati
E eu morrerei feliz, do coração
De ter vivido sem comer em vão.

VINICIUS DE MORAES, 1947

Milano Happy Hour - The Movie

domingo, 15 de junho de 2008

Isto, para mim , é Latim!

Li a notícia “Número de alunos a aprender Latim diminuiu 80 por cento em dois anos”, in PUBLICO, 15-JUN-08, http://ultimahora.publico.clix.pt/noticia.aspx?id=1331745 e não fiquei preocupado.

Não fiquei preocupado com a notícia, em si, nem com os números – 1651 alunos em 2006, reduzidos para 313, em 2008 – nem sequer com a justificação do secretário de Estado da Educação para essa redução. O secretário Valter Lemos diz que, apesar de haver professores para ensinar latim, o interesse dos alunos é reduzido, porque os estudantes não estão interessados em aprender línguas clássicas.

Ainda bem que a lei da oferta e da procura funciona na educação em Portugal, porque assim podemos estar descansados quanto ao futuro dos nossos jovens estudantes. A perspectiva, defendida pelo secretário, de ter os estudantes a escolher as matérias que querem aprender é moderna e liberal, viva! Assim, sabemos que o interesse que os mesmos estudantes continuam a manifestar na aprendizagem das matemáticas e do Português só nos trará anos de prosperidade e desenvolvimento nas ciências e na língua e cultura Portuguesas. Talvez até já não seja necessário fazer o acordo ortográfico!

Segundo o secretário, o problema não está nas políticas educativas, mas nos estudantes, tal como— digo eu --, na saúde, o problema não estará na política, mas nos doentes: enquanto os doentes insistirem em escolher as suas próprias doenças, o Estado não se pode comprometer a ter o serviço de saúde que esses doentes –enquanto contribuintes—pagam, nem a ter os funcionários públicos que esses mesmos contribuintes—enquanto cidadãos—pagam.
Então, se toda a gente sabe que ninguém está interessado em ter funcionário públicos e políticos incompetentes, porque raio é que eles existem? Não há aqui o raio da lei da oferta e da procura?

segunda-feira, 19 de maio de 2008

CANÇÃO DE EMBALAR

Dorme meu menino a estrela d'alva
Já a procurei e não a vi
Se ela não vier de madrugada
Outra que eu souber será p'ra ti

Outra que eu souber na noite escura
Sobre o teu sorriso de encantar
Ouvirás cantando nas alturas
Trovas e cantigas de embalar

Trovas e cantigas muito belas
Afina a garganta meu cantor
Quando a luz se apaga nas janelas
Perde a estrela d'alva o seu fulgor

Perde a estrela d'alva pequenina
Se outra não vier para a render
Dorme que inda a noite é uma menina
Deixa-a vir também adormecer

http://www.youtube.com/watch?v=sq35ur496GE

CANÇÃO DE EMBALAR, José (Zeca) Afonso

quinta-feira, 1 de maio de 2008

À Teresa (que não gosta de blogues) e ao João, que nos vieram ver

Je suis allé au marché aux oiseaux
Et j'ai acheté des oiseaux
Pour toi
mon amour
Je suis allé au marché aux fleurs
Et j'ai acheté des fleurs
Pour toi
mon amour
Je suis allé au marché à la ferraille
Et j'ai acheté des chaînes
De lourdes chaînes
Pour toi
mon amour
Et puis je suis allé au marché aux esclaves
Et je t'ai cherchée
mais je ne t'ai pas trouvée
mon amour.

POUR TOI MON AMOUR, JACQUES PRÉVERT

terça-feira, 22 de abril de 2008

LIMBO? PURGATÓRIO? Porque não acabar com o INFERNO?

FAZ HOJE UM ANO
The Pope Abandons Limbo! Will Purgatory follow?
A commentary by Edmond D. MacaraegUnited Church of God pastor, the Philippines

The Pope authorized the Roman Catholic Church's International Theological Commission on April 22, 2007 to publish a 41-page document titled: "The Hope of Salvation for Infants Who Die without Being Baptized."
(…)
It was in the 14th century that the Italian poet Dante Alighiere (1265-1321) wrote his most popular literary work Divina Commedia (The Divine Comedy). Overlooked by most is the fact that his work intentionally included the word commedia (comedy) because he made fun of (did a parody/satire of) the then popular religious teachings of Limbo, Purgatory, and Paradise, and even assigned known personalities of his day into those various categories!
The decision of the present Pope marks a gradual softening of the Catholic view towards those who die without being baptized. Pope Benedict XVI, prior to his election to the Papacy, was already on record for his personal disbelief in Limbo. Since, from a biblical perspective, the doctrine of purgatory stands in the same category as Limbo, will it be next for review by Catholic religious scholars? For that we will have to wait to see. (…)
In http://www.ucg.org/commentary/abandons.htm

O Catecismo da Igreja Católica tem tido dificuldade em estabelecer o sítio para onde vão as crianças que morrem não baptizadas. Mais dificuldade teve em caracterizar esse sítio mas tem sido aceite, até há um ano, que elas iriam para o limbo. Pelo que apurei, a doutrina do limbo foi introduzida pelo filósofo católico Augustine (354-430) e, mais tarde Tomás de Aquino (1225-1274) monge dominicano Italiano, teólogo e filósofo, defendeu a ideia de que o limbo seria um “estado de natural felicidade para as crianças não baptizadas bem como para outros desprovidos de razão”.
Acontece que, segundo Dante Alighieri, o limbo é o local para onde vão também os que nasceram antes de Cristo, por não terem fé, porque nessa altura ainda não estava disseminada a doutrina cristã, como o poeta Virgílio, uma das personagens da Divina Comédia.
Se, por um lado, concordo com a decisão de acabar com o limbo, para não obrigar as crianças a ficar num sítio duvidoso, por outro, já não me parece bem que se mandem poetas e filósofos e pintores e escultores e tantos outros artistas de antes de Cristo para um outro sítio qualquer, cheio de incertezas, provavelmente suspenso entre o céu e o mundo dos mortos!
Abolir um sítio— apesar de não se saber bem onde é nem como é—é sempre uma decisão difícil e um processo complicado. Como se garante que quem lá está seja recolocado ou deslocado favoravelmente? Espero que corra tudo bem…


IL PURGATORIO DI DANTE
CANTO VII

Poscia che l'accoglienze oneste e liete
furo iterate tre e quattro volte,
Sordel si trasse, e disse: «Voi, chi siete?».

«Anzi che a questo monte fosser volte
l'anime degne di salire a Dio,
fur l'ossa mie per Ottavian sepolte.

Io son Virgilio; e per null'altro rio
lo ciel perdei che per non aver fé».
Così rispuose allora il duca mio.

quarta-feira, 9 de abril de 2008

O Anjo das Pernas Tortas


A um passo de Didi, Garrincha avança
Colado o couro aos pés, o olhar atento
Dribla um, dribla dois, depois descansa
Como a medir o lance do momento.


Vem-lhe o pressentimento: ele se lança
Mais rápido que o próprio pensamento
Dribla mais um, mais dois; a bola trança
Feliz, entre seus pés -- um pé de vento!

Num só transporte a multidão contrita
Em ato de morte se levanta e grita
Seu uníssono canto de esperança.

Garrincha, o anjo, escuta e atende: -- Goooool!
É pura imagem: um G que chuta um o
Dentro da meta, um l. É pura dança!


VINICIUS DE MORAES, O Anjo das Pernas Tortas, 1962

terça-feira, 8 de abril de 2008

O VELHO ABUTRE

in Jornal PUBLICO, hoje

Para a estátua a Jardim, o PND propõe que no "próximo orçamento regional seja reservada uma verba adequada para esta importante obra de reconhecimento e gratidão". Com 50 metros e fundida em cobre, deverá, segundo a proposta, ser colocada na entrada do porto e "concebida de forma a possuir uma escada interior que permita aos visitantes a subida até à altura da cabeça, de onde poderão observar o Funchal, através dos olhos do seu amado líder". Deverá ainda estar dotada de "um mecanismo propulsor interno que permita que a estátua acompanhe o movimento do sol, como fazem os girassóis", e, do cimo, sair "um forte silvo que simbolize para as gerações vindouras os imortais dotes oratórios" de Jardim.


a propósito:

O velho abutre é sábio e alisa as suas penas
A podridão lhe agrada e seus discursos
Têm o dom de tornar as almas mais pequenas

O VELHO ABUTRE, Sophia de Mello Breyner, GRADES, Cadernos de Poesia, Publicações Dom Quixote, 1970

domingo, 6 de abril de 2008

Há tempo que não escrevo no blogue. Não foi preciso. A satisfação de ter cá tido tantos amigos deixou-me de barriga cheia. Tenho estado a remoer o fim-de-semana feito jibóia, lembrança de boas conversas, boas caminhadas e o regravar das caras dos amigos que já não via há muito. Nas caras, foi só fazer um update das texturas, adicionei uma rugazitas à versão anterior, estão todos um bocadito mais maduros...
Sensações, houve muitas! A Márcia optou pela abordagem radical, caminhou até lhe ter saltado um pedaço do calcanhar... não mais se esquecerá de Milão. O João Francisco optou por não trazer as sapatilhas, portanto, não correu e fez muito bem porque Milão não é cidade para corridas, é para se ver nas calmas. Foi o que fizémos. Curtimos a cidade pelas ruelas, não pelas avenidas principais, que isso é coisa de turistas. Limpámos os cantinhos todos, velejámos de través, a cruzar a maré dos que nunca conhecerão as ruas e praças "francesas" da cidade.
De notar uma alteração ao programa porque, em vez de termos ido almoçar ao Gatullo, fomos ao Panino Giusto da Piazza XXIV MAGGIO. Surpresa! Foram os melhores "panini"--sandochas-- que comi. O Alexandre que, a princípio, declarou logo que tinha vindo para comer e beber (e estava à espera de qualquer coisa mais cozinhada), desconfiou dos panini mas depois, levado magistralmente a provar um pela Sofia, acho que gostou. O fim-de-semana acabou com uma viagem ao lago de Como, que eu, infelizmente, não acompanhei. Para mim, o deboche acabou na noite de domingo, com o jantar na Pizzaria Premiata, conforme estava escrito no programa e, cumprido, fechou com chave de ouro! Voltem em breve.

E, a propósito de velejar, encontrei um clube de vela em Milão, aqui a dois bordos de casa, vou inscrever-me! Tenho saudades das brisas marítimas e das mãos feridas pelos cabos.

quarta-feira, 26 de março de 2008

Os que avançam de frente para o mar
E nele enterram como uma aguda faca
A proa negra dos seus barcos
Vivem de pouco pão e de luar.

LUSITÂNIA, Sophia de Mello Breyner

Hoje levaram-me a ver o mar, em Fiumicino.
"A tragédia actual no Tibete é consequência do karma negativo da geração de hoje. As condições para tal surgiram durante a geração anterior. Além disso, no início do século passado, o Tibete isolou-se demasiado do mundo e esqueceu-se de tentar ser reconhecido como um estado independente pela comunidade das nações. As pessoas não estavam interessadas no desenvolvimento que estava a ocorrer nos Estados vizinhos, sobretudo na China."

CAMINHO DE SABEDORIA, CAMINHO DE PAZ, Dalai Lama- Uma Conversa Pessoal, Felizitas Von Schönborn, 2004

Napoleão e o Duomo

Tout jeune Napoléon était très maigre
et officier d'artillerie
plus tard il devint empereur
alors il prit du ventre et beaucoup de pays
et le jour où il mourut il avait encore du ventre
mais il était devenu plus petit.

COMPOSITION FRANÇAISE (PAROLES), Jacques Prévert

Já tem folhas a árvore que ainda não sei que árvore é-- a tal árvore por trás da catedral a que os milaneses chamam Duomo. O Duomo foi mandado acabar por Napoleão.

terça-feira, 25 de março de 2008

Catedral de Burgos


A Catedral de Burgos tem trinta metros de altura
e as pupilas dos meus olhos, dois milímetros de abertura.

Olha a Catedral de Burgos com trinta metros de altura!

CATEDRAL DE BURGOS, António Gedeão

domingo, 23 de março de 2008

TAXI DRIVER

Franz Joseph Strasse, disse eu ao motorista do táxi quando finalmente deixou de falar com o colega e atirou um olhar para o banco de trás, Hotel NH.
Ya, disse o motorista, ene eiche outel.
Passado um bocado, já tínhamos feito duas curvas e cruzado o rio, perguntou-me: where do you come from?
Fiquei surpreendido e contente por este taxista ser um dos que falam—ainda mais pela forma como fez a pergunta, aberta, dava para contar a vida toda…-- e dei a resposta completa, truque de viajante—I’m from Lisbon, Portugal, but living in Milan. Esta resposta dá para arrancar conversa a todos, dos hooligans do futebol aos jogadores de golfe.
Ah, Milano, disse ele.
Very busy town, disse eu.
Busy and dirty, disse ele.
Dirty and noisy!
Depends on where you live.
Right in front of a Cuban bar, disse eu, best mojito in town—if you can’t beat them, join them!, disse eu, como quem diz, se não me deixam dormir ao menos bebo uns mojitos!
Disse-me que tinha um bom amigo em Milão e conhecia bem a cidade. Desde que vivia na Europa, já a tinha visitado, pelo menos, doze vezes, assim como algumas cidades na região de Nápoles, mas onde não havia máfia. Fiquei envergonhado, afinal, o viajante era eu—pelo menos era eu que estava sentado no banco de trás do táxi—e não conhecia o nome das três ou quatro cidades que me atirou. Ainda não tive muito tempo para viajar, disse eu, estou apenas há seis meses em Milão, desculpei-me. Tens de conhecer estes sítios, disse-me, sou american canadian, vim para Salzburgo há dezoito anos, para jogar hóquei—these guys play good hockey, you know?—casei e tive dois filhos, divorciei-me e fiquei. Pagar uma pensão de alimentos é uma coisa, estar com os filhos é outra. Gosto muito de Itália! Quando era miúdo, no Canadá, costumava comer num restaurante italiano e achei que nunca viria a gostar da Itália porque os homens eram muito machos—foi aqui que a minha mente não percebeu o que é que um jogador de hóquei tem contra machos, mas deixei passar—mas afinal gostei. Seven euro, please.
Eu gostei dos meus cinco minutos da minha missa de Páscoa. Órgão, orquestra e coro! Estes foram os cinco minutos por que esperei vinte e três anos. A missa começou às dez, às dez e um quarto estava de volta ao hotel. Make it ten, Happy Easter!

sábado, 22 de março de 2008

Páscoa em Salzburgo, enfim!


Estamos em Salzburgo. Há vinte e três anos prometi que cá voltaria para assistir a uma missa de Páscoa. Nessa altura, estive cá com o Pedro, o Carlos, o João Vaz, o Zé Pedro e a Márcia, quando visitámos a Baviera, numa viagem patrocinada pelo nosso professor Cláudio Spies. Salzburgo não é na Baviera, eu sei… Há vinte e três anos também já não era. Nós estávamos em Munique, com programa de visita de estudo, e decidimos vir passar o domingo de Páscoa a Salzburgo. Viemos de comboio, demos a voltinha a pé, entrámos na catedral—o DOM—e ficámos de boca aberta, a ouvir uma missa com uma orquestra de metais, que produzia um som mágico, repercutido nas pedras da igreja, ecoando em todas as colunas e vitrais, dava vida a santos anichados e exaltava a espiritualidade perdida de quatro jovens arquitectos.
Já não me lembro dos detalhes dessa visita. O Pedro disse-me ontem, ao telefone, que ficámos maravilhados com três coisas (não sei se a ordem foi esta): a cerveja, a pastelaria e uma sopa de cebola. Surpreendeu-me esta lista, porque a viagem de estudo foi dedicada ao tema arquitectura… Forgive us Cláudio Spies, wherever you are!

Desta vez, viemos de carro, de Milão. Já sei que haverá missa com música amanhã às nove da noite e domingo à dez da manhã.

segunda-feira, 17 de março de 2008

San Lorenzo
A vista, durante o almoço.

domingo, 16 de março de 2008

Chegou-nos uma paella!



O Ivo e a Palmira mandaram-me uma paella! Obrigado por terem mandado este bocado do Atlântico.

O pessoal vem aí!

Vamos lá fazer um programa. Chegam num sábado. Vou ter com eles a Malpensa, apanhamos o comboio. Levo-os direitinhos para o hotel, para pousarem as malas. De seguida, almocinho rápido no último piso do La Rinascente, a olhar para os pináculos do Duomo. Passamos a primeira tarde à volta da catedral, Peck, visita às galerias Vittorio Emanuelle, La Scala, Montenapoleone, Via della Spiga, Brera. A tarde acaba com um happy hour no Straf. Mais que suficiente, para o arranque. Jantar em casa, relaxado, para pôr a conversa em dia. Quem acusar o cansaço do voo madrugador, pode passar pelas brasas antes do jantar.

Segundo dia, domingo. Quem quiser levantar-se cedo, pode ir ver a cidade a acordar para as bandas do Duomo, tomar café numa esplanada, comprar o jornal na Mondadori ou na FNAC. A concentração será por volta das onze, já com o pequeno-almoço tomado. Arrancamos para os lados de Santo Ambrósio, Porta Ticinese, Piazza della Resistenza Partigiana, vamos ver a igreja de São Lourenço, o parque das duas basílicas, em direcção ao sul, Naviglio. Passamos pela igreja de Santo Eustórgio, almocinho ligeiro na Gatullo. Tarde de caminhada, com tempo para sesta, reunião às oito, jantar na Pizzeria Premiata.

Segunda-feira, terceiro dia. Voltinha das compras, almocito, comboio em Cadorna às quatro e meia da tarde, avião às sete e meia, programa cumprido. Depois, é só convencê-los a voltar outra vez ou... a ficar.

sábado, 15 de março de 2008

Zen e a Arte do Tiro com Arco

“Bom, parece-me que o mais difícil já passou”— disse eu um dia ao mestre, quando ele nos anunciava que iríamos começar com novos exercícios. “Aqui temos o costume de aconselhar a quem tem de caminhar cem milhas, que considere as noventa como sendo a metade— respondeu ele. Mas o objectivo desta nova etapa é o de atirar ao alvo.”
Até então, o destino da seta era um disco de palha assente num cavalete de madeira, em frente ao qual nos colocávamos, à distância equivalente ao comprimento de duas setas. O alvo, porém, está colocado a uma distância de sessenta metros, sobre uma elevação de areia de base larga, delimitada por três paredes e protegida, tal como o pavilhão onde fica o arqueiro, com uma cobertura de telha graciosamente inclinada. Os pavilhões estão ligados por altos tabiques que isolam do exterior o espaço onde se desenrolam acontecimentos tão singulares.
O mestre fez uma demonstração de tiro ao alvo. Ambas as setas acertaram no centro. Depois, convidou-nos a executar a cerimónia exactamente como antes, e permanecer em tensão máxima sem deixar que a presença do alvo nos causasse a mínima perturbação e esperar até que se desse o disparo. As nossas finas setas de bambu, embora partissem na direcção desejada, não chegavam a atingir, sequer, o monte de areia, e muito menos o alvo, cravando-se no chão à sua frente.
“As suas setas não atingem o alvo – observou o mestre – porque o seu alcance espiritual é limitado. Deve comportar-se como se o alvo estivesse a uma distância infinita. É um facto conhecido e comprovado pela experiência quotidiana entre nós, mestres arqueiros, que um bom arqueiro, munido de um arco de resistência média, atira mais longe que um arqueiro munido do arco mais forte, mas carente de espiritualidade. Logo, o resultado não depende do arco, mas sim da presença de espírito, vivacidade e atenção com que ele é manejado.”
(…)
Com o decorrer do tempo foram acontecendo, de vez em quando, mais alguns tiros que atingiam o alvo, embora acompanhados de muitos tiros falhados. Mas, ao menor sinal de vaidade, logo o mestre me repreendia com particular rudeza e explodia: “Mas o que é que se passa consigo? Sabe perfeitamente que não se deve incomodar com os tiros falhados. Do mesmo modo, deve abster-se de se alegrar com os tiros bem sucedidos. Tem de se libertar desse oscilar entre o prazer e o desprazer. Precisa de aprender a manter-se em serena indiferença, e alegrar-se como se tivesse sido outro, que não o senhor, a executar um bom tiro. Não calcula como isto é importante.”
(…)

ZEN E A ARTE DO TIRO COM ARCO, Eugen Herrigel

Eugen Herrigel (1884-1955) foi um filósofo alemão que ensinou filosofia na Tohoku Imperial University em Sendai, Japão, de 1924 a 1929 e levou o Zen a muitas partes da Europa através dos seus escritos.

Primavera urbana



Nunca me tinha apercebido de como chega a Primavera à cidade. Até ter vindo para Milão, pensava que a Primavera apenas existia no campo. Milão é uma cidade de árvores que florescem. Todas as árvores florescem? Magnólias florescem, certamente, Milão é uma cidade de magnólias. Atrás do Duomo há uma árvore—uma só—que floresce, não sei que árvore é, pensava que era uma magnólia quando a vi pela primeira vez, antes de florir. Não é! Tem uma flor parecida com a do lírio. Parece haver uma cumplicidade histórica entre esta árvore e as pedras da catedral. Que terá visto esta árvore? Quantas primaveras terão florido nesta árvore junto à catedral? Quem se terá sentado à sua sombra, olhado para as suas flores, com os contrafortes de pedras talhadas como fundo?

Porque o entardecer é uma ferida vertical que tomba no horizonte, aqui estou e aqui a contemplo embevecida de silêncio e paz.

Digo baixo nomes antigos, nomes verdadeiros, nomes bons. Nomes escusados.

Bato à porta da noite que chega, com a alma cansada e os braços tranquilos.

Atravesso o horizonte de laranja e roxo e sento-me na grande porta que ainda não foi aberta do outro lado do mar.

Encosto a cara aos barcos ancorados em cais antigos. Respiro na amurada de ternas viagens que não mais farei.

Há verdes brisas nos meus cabelos, livres como pássaros de que não se sabe a origem.

A primeira estrela floresce perto da Lua.

Seres tranquilos embriagam-se de tranquilidade e trevas e nascem como troncos invulneráveis na praia silenciosa.

Alguém começou a cantar. Um pouco ao acaso.

Outras sombras verticais escutam abismadas e respondem de um horizonte antiquíssimo à voz primeira. São uma constelação inesperada, quente, que corre como um vinho velho e nos perturba.

Um pássaro voa neste canto.

Atravessa o entardecer e, por momentos, é uma canção também.

Integra-se a tristeza que nos dilui, desta doçura nocturna, acerada de símbolos repentinos.

Sobre o mar, pressente-se uma ordem harmoniosa, que não ilude.

Há uma guitarra junto às rosas da memória.

A noite cai, solene.

Uma lágrima fractura o espelho desta hora.

MELODIA PARA UM ENTARDECER- Maria Rosa Colaço

quinta-feira, 13 de março de 2008

Política da educação ou educação da política?


Quando o governo fala de educação, os professores acham que se está a falar deles e vitimizam-se corporativamente. Os partidos não governantes reagem em bloco, aproveitam para tirar vantagens da contestação pública dos professores. O governo encolhe os ombros, engaveta os protestos (o que não os mata, fortalece-os) e promove-se na opinião pública. Entretanto, quem explica que as vítimas da falta de uma política de educação não são nem os políticos nem os professores? Quem é que é capaz de defender, corporativamente, a sociedade Portuguesa?

Partenon, terça-feira passada


sábado, 1 de março de 2008




Acabou o Inverno em Milão. Os termómetros aqueceram 10 Celsius graus e tiraram o cachecol e os gorros. Acabaram os gélidos cinco graus, vivam as temperaturas de Primavera— hoje chegámos aos dezanove! A vida em Milão intimou a nossa relação com o mercúrio. Não há manhã das últimas semanas em que não olhemos para os tracinhos (é óbvio que estou a tentar fazer uma figura de estilo, porque o termómetro é digital e só mostra cristal de quartzo na forma de numeração árabe) da escala térmica, na esperança de podermos deixar o cachecol em casa. Aconteceu! Saímos sem sobretudo ou parca, visto que as temperaturas se amenizaram, podemos caminhar do lado solarengo da rua imaginando que estamos na Primavera, a expressão “fim da tarde” começa a ter significado.
Hoje almoçámos com a Sofia, o Manuel e o João, antes passámos no mercado da Via Olona, levámos queijos, vinho e azeitonas, comprámos pizas. A Sofia fez o melhor “tiramisú” que comi até hoje. No regresso a casa, passámos pela montra daquela loja das facas e não consegui resistir a comprar a Wusthof 4183/17 Santoku Oriental cook’s knife… uma obra de arte!
O mercado da via Olona é a representação eterna da Primavera, visto que, com a globalização e industrialização dos produtos agrícolas, é possível encontrar morangos do Chile na época do Natal (a vinte euros o quilo!) mas hoje os hortícolas eram genuínos, havia nabiças, alcachofras, favas, laranjas, cores primaveris e intensas.

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2008

A fonte do Tritão


O café greco e sua torta
Praça de Espanha

Pintor de rua
E o fantástico Panteão!!


Roma é uma cidade sufocativamente monumental. Foi preciso algum tempo até conseguir reduzir a cidade a algo habitável, estreitar a distância imposta pela História e sentir-me um verdadeiro cidadão de Roma—no espaço, não no tempo, claro... Digo cidadão porque não gosto de me sentir turista quando visito uma cidade, chateia-me a ideia de ter de venerar a História, gosto de conhecer uma cidade como se lá morasse, sem ter de me vergar sob o peso das pedras. Em Roma levou tempo mas, consegui. Não é que tenha conhecido ou visto, sequer, toda a cidade, mas consegui estabelecer um conjunto de referências geográficas e sociais—e gastronómicas, claro!—que me permitem escrever a minha “história” de Roma. Entre outros romanos, conheci o Emílio, taxista convicto, de quem posso dar o número de telefone. Trabalha 12 horas por dia, mas só começa ao meio-dia, por causa do trânsito. Conhecemos o “pronto soccorso” do hospital de San Giovanni e o sistema de saúde romano, graças a uma reacção alérgica da Joana. Ficámos clientes regulares de dois ou três restaurantes à segunda visita, com direito a mesa longe da porta e dos sanitários… Lanchámos no degradante café Greco, ao pé da Praça de Espanha, ficámos amigos do Francesco, que nos alugou o apartamento na via Nazionale e não quis cobrar a saída tardia porque a Joana estava doente (o Francesco, para além de dono do apartamento em que ficámos, tem uma tabacaria e ofereceu-me uns “baci” para dar à Joana, bombons que ela comeu imediatamente; no dia seguinte, o desgraçado ficou preocupado quando soube que a reacção alérgica se tinha devido a algo que a Joana comera…)


quinta-feira, 21 de fevereiro de 2008

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2008


Desculpem, não resisti!

ROMA...





Ouvi o Mestre Júlio Resende dizer que, para ele, o Inferno é um sítio que não tem sombras.
Roma não é!

domingo, 17 de fevereiro de 2008


Dallas, USA, semana passada

Albrecht Dürer na Ambrosiana

Não perder, vi esta exposição no Guggenheim de Bilbao em Agosto, é FANTÁSTICA!

NO SMOKING

Fui a Atenas e fiquei três dias. Voltei asmático e com os pulmões cheios de fumo... Estando em Itália há seis meses, já não fazia ideia de como era um ambiente de fumadores!


SUCESSO!!
O jantar saiu óptimo! O “tian” ficou fantástico e fiz também uma espécie de tortilha de batata (que já não fazia desde a Carrapateira) e que ficou melhor que nunca. O bifezinho, claro, aqui do nosso talho do bairro, ficou cauterizado (“braised”, segundo os saxões), suculento e deixou-se deglutir em harmonia com o Châteauneuf-du-Pape.

A receita aqui vai: VENHAM CÁ!

Agora, umas palavras especiais para a “torta” da sobremesa. A Célia teve a fantástica ideia de trazer uma instituição para o jantar: a Torta Pistocchi (lê-se pistóqui)! É um doce verdadeiramente fascinante, peitoral e profilático (até porque o chocolate foi incluído, pela OMS, na categoria de “alimentos medicamentos”). Ingredientes: chocolate negro de grande qualidade, cacau amargo e natas.
www.tortapistocchi.it

sábado, 16 de fevereiro de 2008


Hoje vamos ter jantarada!
Estou a pensar fazer uma coisa que vi numa revista que me apareceu à frente esta manhã. Trata-se de um assado de vegetais, cortados em fatias finas, feito no forno à moda do Luberon--a revista é a Coté Sud, número 108, de Outubro-Novembro 2007.

É claro que, depois de ter visto a receita e as fotos na Coté Sud, porque desconfio do poder da “media”, fui fazer pesquisa na www (em italiano, vuvuvu) e encontrei uma co-bloguer com uma versão completamente diferente deste prato (na revista e neste blogue, ambas as receitas aparecem com o nome de “tian”, agradeço aos francófonos que me esclareçam se este é um nome genérico, porque assim, a discrepância fica justificada). Aqui fica o “link” da parceira… http://questcequonmange.blogspot.com/2007/06/un-tian-courgette-chvre-et-menthe-et-un.html


Seja como for, os ingredientes já cá cantam, falta agora decidir qual das versões vou usar como guião (sim, que eu não sou de ler manuais em detalhe, prefiro ler rapidamente, interpretar –mal, geralmente—e passar ao fogo!). Se correr bem, blogo a receita.
Como a Joana é avessa a comer só vegetais (justificada por uma carreira desportiva que já passou pelo ballet, judo, natação, basketball e vai a caminho do futebol), temos também uns magníficos nacos de novilho (vai chegar para quem se meter no TAP das 14h55) que vou grelhar na minha All-Clad (podem ver o que é na vuvuvu…)
Vinhaça… pois então! Temos um Châteauneauf-du Pape 2004 tinto (Château La Nerthe), pelo que fica já decidido que vou abolir o tomate da receita, para não a tornar demasiado ácida (ontem por curiosidade, abri uma versão branca do mesmo produtor, fantástico! Estou ansioso por provar o tinto!)
Depois conto como foi.
Ciao

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2008


Caros Amigos!

Decidi criar um blogue para atraír o pessoal a Milão! Já que ninguém, de sua livre vontade, decide aparecer...
Como sabem, estamos cá desde Agosto. Habituámo-nos rapidamente à cidade. É uma cidade complexa, conhece-se aos poucos, no sentido em que tem de se conhecer como se prova um vinho "complexo"... por um lado, hostil e dura, por outro, provinciana e frágil, cheia de camadas de história, pedra talhada, culturas, aromas de um "bouquet" extraordinário, com um final persistente... Aos sábados, durante a manhã, porque moramos no centro, a cidade é só nossa-- permite-se desfrutar como os milaneses sempre a desfrutaram--, acorda lentamente, materializa-se perguiçosamente através da azáfama dos mercados de rua e do rolar metálico dos "tram"; aos domingos, acorda mais tarde, as familias milanesas vão à missa e almoçam fora, os turistas e os que vivem na periferia chegam mais tarde e todos se passeiam pelas ruas do centro, lojas abertas -- FNAC's, galerias Vittorio Emanueles, etc.