Não estava habituado a ouvir o Debussy fora de casa. Não tive receio de o levar a Biella, que é uma cidade romântica, de belos palácios e belos jardins românticos, terra moldada da terra no virar do século, à custa da indústria têxtil. Sabia que era o seu ambiente natural. A visão pacifica dos Alpes, naturalista e romântica também não deveria preocupá-lo. Do que tinha medo era da velocidade, da auto-estrada entre Milão e Biella, cento e quarenta, cento e cinquenta quilómetros por hora, não sabia como iria reagir. Liguei o iPod ao carro, liguei os cento e setenta cavalos, saímos.
Atravessámos Milão, mais românticos que modernos [1], eu e o Debussy.
Pusemos as rodas na autoestrada [2], cento e quarenta (don't do this at home, a velocidade máxima em Itália é de 130km/h). Perfeito! O Claude (permitam-me que o trate por Claude) reclinou-se no banco, olhou para o lado, viu o TGV passando por nós a quase o dobro da nossa velocidade e olhou para mim com ar desafiador: disse-lhe que se limitasse ao seu próprio andamento, que haveriam de vir outros futuristas para aquelas velocidades…
Segui, olhando para os Alpes, durante quase uma hora, ouvindo o Claude. À vista da minha obra, apareceu Rimbaud [3]:
Là bas, dans leur vaste chantier
Au soleil des Hespérides,
Déjà s'agitent -- en bras de chemise --
Les Charpentiers.
[…]
O Reine des Bergers,
Porte aux travailleurs l'eau de vie,
Que leurs forces soient em paix
En attendant le bain dans la mer à midi.
[…]"
[1] Images Inédites, L. 87: I. Lent, Doux Et Mélancolique
[2]Pour Le Piano, L. 95: I. Prélude. Assez Animé Et Très Rythmé
[3]Poesia Délires II/Alchimie du Verbe, em Rimbaud, Arthur, Rimbaud Oevres Poétiques. 1964 (Chronologie et préface par Michel Décaudin), Paris: Garnier Flammarion p.131
PS: Continuo a achar que mais vale uma metáfora do que mil imagens.
Ciao
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