quarta-feira, 9 de abril de 2008

O Anjo das Pernas Tortas


A um passo de Didi, Garrincha avança
Colado o couro aos pés, o olhar atento
Dribla um, dribla dois, depois descansa
Como a medir o lance do momento.


Vem-lhe o pressentimento: ele se lança
Mais rápido que o próprio pensamento
Dribla mais um, mais dois; a bola trança
Feliz, entre seus pés -- um pé de vento!

Num só transporte a multidão contrita
Em ato de morte se levanta e grita
Seu uníssono canto de esperança.

Garrincha, o anjo, escuta e atende: -- Goooool!
É pura imagem: um G que chuta um o
Dentro da meta, um l. É pura dança!


VINICIUS DE MORAES, O Anjo das Pernas Tortas, 1962

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