Fui vê-los ao Teatro Donizetti, em Bergamo. Espero que noite tenha sido tão boa para eles como foi para mim. Não consegui aplaudir a interpretação da “Beatriz” porque precisei das duas mãos para me agarrar à cadeira, se não, voava. Mesmo assim, levitei. Acompanhei todas as respirações da João como se fossem minhas. Move-se no palco, sobre as notas do Mário Laginha, como se move no tapete, criando espirais no ar à sua volta, envolvendo com essas espirais os sons que saem do piano, num espetáculo único de harmonia de som, movimento, e cor. A luz estava perfeita, a plateia ao rubro, o Donizetti (1797-1848) deve ter-se sentido orgulhoso.
segunda-feira, 27 de abril de 2009
Maria João e Mário Laginha
sábado, 25 de abril de 2009
Lisboa
No meio do rio, contemplo a cidade, semi-cerrando os olhos, como um pintor. Para ver os detalhes, aperto a luz entre as pálpebras: ela cai, sem dó, sobre o casario, traçando linhas, esculpindo formas, espalhando cores; brancos, sobretudo, porque a luz é insuportavelmente branca; uma miríade infindável de brancos. Mais tarde, quando o sol libertar as colinas, e as casas se libertarem do alvo esmalte que as cobre, outras cores se revelarão…
A luz é excessiva, supérflua, maior do que a cidade precisa. Uma auréola de santo, um clarão de milagre, um brilho de ouro, todo este excesso de luz, que se foi incrustando na cidade durante séculos, envolve as colinas, as casas, as igrejas, os palácios, os jardins, as árvores, os faróis, os miradouros, os armazéns, os ministérios, o castelo.
Um tranquilo céu azul pousa sobre esta brancura, contendo-a para que não transvase, como uma coberta sobre a massa que dará o pão. Traços pós-modernistas esbracejam no azul, como que tentando libertar a cidade da luz que a oprime; mas, também esses já se deixam sedimentar nesta teia de luz… maravilhosa cumplicidade, o azul e o branco, como num azulejo da Madre de Deus.
Em harmonia com os sons que a brisa sopra no mastro e no cordame – e que apenas os marinheiros reconhecem como música -- escuto o batuque sincopado e hipnótico dos carros rolando na ponte, e dos elétricos rolando ferro na baixa. São ritmos que vêm de outros tempos, e de outros continentes— de quando os navios se abraçavam a este cais, com risos e lágrimas, para receber e largar gentes (agora, os navios deixam no cais, arrumadinhos, os carrinhos “matchbox” com que brinquei em miúdo; que salpicam a margem de cores metalizadas, com garantia anti-corrosão, e outros extras).
As gentes ainda chegam e partem, nos cacilheiros: viajam entre a margem sul e a margem-sol, numa viagem talvez menos dolorosa do que as de outrora… ou talvez não; não há sorrisos, nem lágrimas; ninguém à espera.
Os cacilheiros, na ânsia de chegar e voltar a partir, atiram-se sobre a cidade, deixando cicatrizes nas pedras do cais, marcando-as, atirando-lhes as gentes: os homens e as mulheres que desembarcam somem-se, dissolvem-se na luz; materializar-se-ão mais tarde, na penumbra, cansados e tristes.
Não sei quando voltarei a ver esta luz; mas, sei que aqui estará, para sempre, à minha espera.
O vento vira, a vela bate, viro de bordo, volto as costas à cidade, aproo ao vento, descanso os olhos no horizonte, e parto.
Milano, 25 de Abril de 2009
sexta-feira, 24 de abril de 2009
quinta-feira, 16 de abril de 2009
Reencontro
A Madeleine passou cá por casa, jantámos na Cantina della Vetra, e viajámos juntos para Florença. Foi bom reencontrar esta amiga chilena -- sempre um pouco perdida pelo mundo -- depois de quase uma vida sem nos vermos.
Até breve, Madeleine Stein!
A Leitaria Gourmet
O meu amigo João Jacinto vai abrir um restaurante que se chama: A Leitaria Gourmet. Vai ser bom, com certeza; assim que puder, vou lá; infelizmente, à inauguração, dia 29, não posso ir.
Aqui fica www.aleitariagourmet.pt