No outro dia fui passar o fim-de-semana a casa da Isabel e do Pedro. Conheço a Isabel há mais de vinte anos, fomos colegas de liceu, e conheço o Pedro desde que casaram, há mais de dez. Temos mantido contacto assíduo e gostamos de estar juntos mas ainda não os tinha visitado desde que decidiram mudar-se para o campo. Jantámos, passámos um bom bocado na conversa, e falaram com muito entusiasmo da sua mudança, da qualidade de vida que ganharam, e do sossego que agora têm. Pareceram-me bastante mudados, sobretudo muito mais calmos do que quando viviam na cidade. O campo estava a fazer-lhes bem mas eu tive de admitir que ainda precisava muito da vida e do bulício da cidade, gostava do campo aos fins-de-semana, quando podia, ou quando me apetecia, mas o dia-a-dia tem de ser na cidade. Acabámos de jantar cedo, mais uma vantagem da vida no campo, deitar cedo e cedo erguer… Ficámos ainda a conversar, bebendo um licor de ervas que eles próprios fizeram, ouvindo os barulhos da noite do campo: os cães a uivar, os mochos piando, os carros ao longe na autoestrada. Subitamente, o Pedro levantou-se, e beijou-me, despedindo-se «Ana, vemo-nos amanhã, estou cansado, vou dormir,» e saiu de casa. Eu fiquei sem saber o que dizer. Olhei para a minha amiga Isabel, de olhos abertos, a ver se vinha explicação. Ela nada. Perguntei «que se passa? Porque saiu ele? Não dorme em casa?» A Isabel apercebeu-se finalmente do meu olhar espantado e sossegou-me: «Não te preocupes, querida. Desde que viemos viver para o campo que o Pedro gosta de se deitar com as galinhas. Eu não me importo e, por outro lado, tem vantagens: traz-me ovos fresquinhos pela manhã…»
sexta-feira, 18 de dezembro de 2009
Vidas saudáveis
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