domingo, 10 de maio de 2009

Itália, país de oportunidades

Saí de casa com a sensação de que me tinha esquecido de qualquer coisa – o que raramente acontece. Achei que poderia não ter o bilhete de identidade; sem ele não poderia viajar. Não pensei mais nisso, apenas antes de embarcar me voltei a lembrar do assunto e procurei: não tinha. Veio-me a ideia clara de que o tinha deixado no bolso do casaco com que viajara no dia anterior… Procurei uma funcionária da companhia aérea e perguntei se poderia viajar com outro documento: carta de condução, por exemplo. Não, sem documento de identidade não se viaja, poderiam abrir uma excepção e deixar-me viajar exibindo a carta de condução, se já estivesse de regresso ao meu país de residência, mas, neste caso, em início de viagem, não. Decidi tentar a polícia, talvez me pudessem passar uma declaração que me permitisse viajar apenas com a carta de condução (afinal de contas, trata-se de um documento europeu). Fui ao gabinete da polícia, estavam três polícias olhando para um computador.

-- Posso entrar? Esqueci-me do meu documento de identidade, que possibilidades tenho de viajar com outro documento?

-- Que documento?

-- A carta de condução, por exemplo?

-- Não, com a carta de condução não pode viajar. Como entrou aqui? Que documento mostrou para aqui estar?

-- Apenas o cartão de embarque.

-- E como lhe fizeram o checkin sem ter mostrado um documento?

-- Fiz o checkin online.

-- E recusaram-lhe o embarque?

-- Ainda nem sequer tentou embarcar – disse um dos outros polícias.

(Achei que ele queria dizer: o parvo ainda nem sequer tentou…)

-- Não tentei embarcar sem documentos. Percebi que não tinha o documento de identidade e decidi vir aqui perguntar se haveria alguma solução alternativa para viajar.

-- Bom, pode ir para a porta de embarque e tentar…

Comecei a achar que o polícia estava a tentar enganar-me, para depois me poder prender quando tentasse embarcar sem os documentos…

-- Mas, é ou não obrigatório mostrar os documentos antes de embarcar? (eu sabia que estava a ser redundante, mas estava a tentar encontrar a fronteira entre a moral e a lei)

O polícia abriu muito os olhos, como se estivesse a falar para uma criança, e disse:

-- A menina que faz o controlo de embarque é obrigada a pedir-lhe os documentos mas também se pode esquecer de o fazer…

-- Então, se eu conseguir embarcar porque a menina se esqueceu de me pedir os documentos, como regressarei amanhã de Amesterdão, sem documentos?

-- De comboio…

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