terça-feira, 19 de maio de 2009

Neblina

TEXTO ORIGINAL

“Com a chuva, a neblina ia-se rasgando, descendo, separando-se em farrapos e deixando a descoberto trechos de terra, como se dum mar de espuma surgisse um arquipélago. Sobre as pedras lavadas apareciam as mulheres; retardatárias, que caminhavam, apressadamente, em direcção à igreja, uma das mãos no guarda-chuva, a outra a levantar um pouco as saias, para que a água não as esparrinhasse. Não se via o rosto de nenhuma delas.”

Ferreira de Castro, A Missão - 3 novelas (A Experiência), Guimarães & Cª., Lisboa, 1954

RESCRITA 1

A precipitação arrefece o ar, obrigando a neblina a dissipar-se, formando bancos, aumentando a visibilidade (se a visibilidade fosse inferior a 1000 metros, chamar-se-ia nevoeiro). Algumas mulheres, olhando para o chão, caminham rapidamente sobre o empedrado molhado, em direção a uma igreja: protegem-se da água que cai com um guardachuva que seguram aberto numa das mãos; e da água que respinga do chão protegem as saias, puxando-as acima, para que não se molhem.

RESCRITA 2

Manhã sem sombras. Agora chove. A neblina dissolve-se e deixa em nós uma humidade triste de litoral. Atravessam-nos carreiros apressados de mulheres que nos seguem com os olhos os contornos molhados: a chuva caindo das varetas dos chapéus esculpe eternamente em nós o caminho da igreja. Em gestos de mulheres, levantam as saias: que não se ensopem. Não se vêm as mãos de nenhuma delas.

Sem comentários: